Chefe de Gabinete de Zelensky deixa cargo em meio a investigações de corrupção na Ucrânia

O chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andriy Yermak, renunciou nesta sexta-feira (28) após agentes anticorrupção realizarem uma operação em sua residência. Considerado braço direito do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ele liderava a equipe de negociação do país nas complexas conversações, apoiadas pelos Estados Unidos, para tentar encerrar o conflito com a Rússia.

A saída de Yermak ocorre durante uma ampla investigação de corrupção nos altos escalões do governo, o que causou indignação entre a população ucraniana. Pelo menos dois ministros já haviam deixado seus cargos anteriormente. Sob pressão, Zelensky declarou que nomeará um substituto para a chefia de gabinete no sábado.

Yermak é amigo próximo de Zelensky desde a época em que o atual presidente trabalhava como comediante na televisão. O agora ex-chefe de gabinete auxiliou o líder ucraniano na bem-sucedida campanha presidencial de 2019, quando Zelensky se apresentou como um candidato externo ao establishment político tradicional.

‘A Rússia deseja intensamente que a Ucrânia cometa equívocos’, afirmou Zelensky em pronunciamento em vídeo após a renúncia do chefe de gabinete. ‘Não haverá erros do nosso lado. Nossas atividades prosseguem normalmente.’

Yermak não é considerado suspeito nas investigações de corrupção, mas parlamentares da oposição e alguns integrantes do próprio partido de Zelensky exigiam sua demissão em resposta à pior crise política do país desde o início do conflito. O ex-chefe de gabinete informou que seu apartamento foi vistoriado por agentes e que colaborava integralmente com as autoridades.

O Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia e a Procuradoria Especializada Anticorrupção declararam que as buscas foram ‘autorizadas judicialmente’ e estão vinculadas a uma investigação não divulgada publicamente.

No começo deste mês, as duas agências revelaram ampla investigação sobre suposto esquema de suborno de US$ 100 milhões na empresa estatal de energia nuclear, que envolvia ex-altos funcionários e um antigo associado de Zelensky.

Em comunicado divulgado na sexta-feira, o partido de oposição Solidariedade Europeia solicitou a demissão de Yermak e sua retirada da equipe de negociação, além da formação de novo governo de coalizão e o início de diálogos com Zelensky.

‘A questão da paz e o destino dos ucranianos não podem depender de vulnerabilidades pessoais e da reputação comprometida de políticos envolvidos em escândalos de corrupção’, afirmou o partido. A iniciativa de paz apoiada pelos norte-americanos ocorre enquanto as forças russas avançam em diversos pontos da extensa linha de frente.

Moscou alega que suas tropas estão próximas de capturar a cidade de Pokrovsk, no leste do território, o que representaria sua maior conquista em quase dois anos de conflito.

Na quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que um plano de paz americano de 28 pontos, divulgado na semana anterior, poderia servir como ‘base para futuros acordos’. Contudo, exigiu que Kiev retirasse suas tropas do território que ocupa no leste do país antes que Moscou interrompesse as operações militares.

Em entrevista à revista The Atlantic nesta semana, Yermak afirmou que ‘ninguém deve contar com nossa cessão de território’.

Demonstrar avanços no combate à corrupção constitui elemento fundamental da candidatura de Kiev para ingresso na União Europeia (UE), que as autoridades ucranianas consideram crucial para se distanciar da influência russa. Em declaração anterior ao anúncio da renúncia de Yermak, porta-voz da Comissão Europeia afirmou que Bruxelas ‘continuaria acompanhando a situação atentamente’.

As duas agências anticorrupção intensificaram suas ações durante a invasão russa, mas relataram sofrer pressão de interesses particulares. Zelensky chegou a limitar temporariamente a autonomia dessas agências em julho passado, mas reverteu a decisão após manifestações públicas e críticas de parceiros internacionais.