Desemprego atinge nova mínima histórica, mas sinais apontam para possível esgotamento
Impulsionada principalmente pela saída de pessoas do mercado de trabalho, a taxa de desocupação no Brasil recuou para 5,4% no trimestre móvel finalizado em outubro, conforme dados divulgados pelo IBGE. Este resultado estabelece um novo recorde negativo na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que teve início em 2012.
O índice ficou abaixo do verificado no trimestre anterior, encerrado em julho (5,6%), e também inferior ao piso das projeções do Valor Data, que variavam entre 5,5% e 5,7%.
No trimestre concluído em outubro, o país registrava 5,9 milhões de desempregados, uma redução de 11,8% comparado ao mesmo período de 2024. Já o total de pessoas empregadas alcançou 102,6 milhões, representando alta de 0,9% na mesma base comparativa.
O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado atingiu novo patamar recorde: 39,2 milhões, assim como a renda média (R$ 3.528) e a massa de rendimentos (R$ 357,3 bilhões).
Apesar dos indicadores favoráveis, analistas econômicos e o próprio IBGE destacam que o movimento de melhoria do mercado de trabalho apresenta indícios de que pode estar próximo do limite. Na série com ajuste sazonal da XP Investimentos, o nível de ocupação recuou moderadamente pelo terceiro mês seguido, chegando a 101,9 milhões de trabalhadores. A taxa de participação no mercado caiu 0,2 ponto percentual, para 62,0%. Este é o menor patamar desde dezembro de 2023 e significativamente abaixo dos níveis pré-pandemia (aproximadamente 63,5%).
‘A maior parte das categorias de emprego perdeu força nos últimos meses. O total das ocupações formais recuou 0,2% no mês, alcançando 63,5 milhões. Enquanto isso, o conjunto das categorias informais caiu 1,8% na comparação anual ― terceira queda consecutiva ―, embora tenha registrado discreto avanço de 0,1% no mês’, destaca em relatório o economista Rodolfo Margato.
Segundo André Valério, economista do banco Inter, o recuo da taxa de participação como explicação para a queda do desemprego é algo que se alinha com a divulgação do Caged de outubro. O dado surpreendeu negativamente ao apresentar não apenas uma geração de 85 mil empregos com carteira assinada em outubro, número bastante abaixo das expectativas, mas também destruição de vagas em setores mais sensíveis ao crédito, como indústria, construção civil e agricultura.
‘O que observamos na quinta-feira [27] foi uma forte perda de dinamismo do setor formal, com a média móvel de três e seis meses bastante fracas, nos menores patamares dos últimos anos. É importante lembrar que a Pnad é uma pesquisa trimestral, portanto, é provável que os dados mais fracos do Caged se reflitam nas próximas divulgações’, afirma.
Redução do bônus demográfico
Sobre a queda na taxa de participação, Valério indica que diversos fatores podem estar por trás do movimento, mas ressalta a própria demografia ― recalculando o nível de emprego com a população de 2012, a taxa de desocupação estaria 1,8 ponto percentual acima da atual. ‘O bônus demográfico que temos vivenciado deve terminar por volta de 2040, então é algo que ficará cada vez mais evidente.’
Na entrevista para comentar os números da Pnad, a coordenadora do IBGE responsável pela pesquisa, Adriana Beringuy, admitiu que a queda do desemprego está associada a uma menor procura por trabalho, em vez do crescimento do estoque de trabalhadores. Depois de um ano de 2024 ‘excepcional’, vivemos um período ‘que mantém a ocupação em expansão, embora com variações não tão elevadas’, comentou.
Dinâmica de renda
Se a perspectiva de emprego esfria, a dinâmica da renda continua chamando atenção, observa o economista da 4intelligence, Bruno Imaizumi.
Em seus cálculos, houve alta dos rendimentos médios reais efetivo (+0,4%) e habitual (+0,2%), na série com ajuste sazonal, tanto para formais quanto para informais.
‘Uma vez que houve queda da ocupação nos dois grupos, essa alta pode estar ocorrendo por efeito composição: quando as pessoas que ganham menos saem da amostra, isso acaba elevando a média’, explica.
Decompondo a expansão da massa de renda efetiva, que cresceu 4,3% na variação interanual até outubro, Imaizumi ressalta que apenas 1,1 ponto percentual deste montante é explicado pelo efeito população ocupada, enquanto o restante (3,2 pontos) é explicado pelo efeito rendimento.
‘Isso demonstra como, ao longo de 2025, o que tem sustentado o crescimento da massa de renda é o ganho salarial. Em 2024, havia mais equilíbrio entre este e o crescimento da população ocupada’, diz.
Segundo Imaizumi, a maior importância do crescimento dos salários é algo explicado por dois fatores. Primeiro, pelo mercado de trabalho já apertado, com população ocupada próxima dos recordes ― quanto menor o desemprego, maior o poder de negociação dos trabalhadores.
Segundo, por causa da política de valorização do salário mínimo, que concede reajustes reais na base, mas acaba beneficiando quase todas as posições formais e muitas das informais.
‘Por mais que o Banco Central tente controlar inflação via juros superelevados, a política fiscal que considera superexpansão do salário mínimo dificulta esse trabalho’.
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