Moradores alertaram sobre risco de incêndio em condomínio de Hong Kong antes de tragédia
Os moradores do conjunto habitacional Wang Fuk Court, em Hong Kong, na China, haviam alertado as autoridades locais sobre o risco de incêndio por conta das obras de renovação em andamento, informou o Departamento do Trabalho da cidade.
Os moradores manifestaram preocupações sobre as atividades de manutenção em setembro de 2024, incluindo a possível inflamabilidade da tela verde utilizada pelos empreiteiros para cobrir os andaimes de bambu instalados ao redor dos edifícios, disse um porta-voz do departamento por e-mail. As autoridades, porém, afirmaram, na época, que o risco de incêndio era ‘relativamente baixo’.
O departamento posteriormente revisou a certificação de segurança da tela, usada como rede de contenção para detritos, e disse aos moradores que o desempenho retardante de chama do material atendia aos padrões, afirmou a agência, responsável por ajudar a aplicar normas de construção definidas pelo Departamento de Edificações.
A polícia de Hong Kong informou, porém, que as paredes externas dos prédios ‘possuíam redes, membranas, lonas impermeáveis e folhas plásticas suspeitas de não atender aos padrões de segurança contra incêndio’. Três pessoas ligadas à empreiteira de reformas Prestige Construction foram presas sob suspeita de homicídio culposo.
A causa exata do incêndio ainda não foi determinada. O que está claro, porém, é que o fogo se espalhou rapidamente pela estrutura de andaimes externos, disse Jiang Liming, especialista em segurança contra incêndio da Universidade Politécnica de Hong Kong, que analisou gravações do incêndio.
Ao todo, o incêndio deixa 128 mortos até o momento, além de 200 desaparecidos.
A Prestige, que havia obtido um contrato de renovação de US$ 42,4 milhões para o complexo em janeiro de 2024, não respondeu a repetidas tentativas de contato. As três pessoas detidas, cujos nomes não foram divulgados, não puderam ser localizadas.
Questionada sobre a revisão da certificação de segurança da tela, a polícia encaminhou a uma declaração em que afirmou que ‘reunirá evidências e conduzirá uma investigação completa para determinar a causa do incêndio’ assim que o fogo estiver totalmente extinto.
O Departamento do Trabalho disse que, ao informar moradores que havia baixo risco de incêndio desde que processos como soldagem fossem evitados, isso não significava que outros riscos potenciais foram ignorados. Afirmou também que lembrou a empreiteira da necessidade de implementar medidas de prevenção contra incêndios.
A agência acrescentou que realizou 16 inspeções de segurança no Wang Fuk Court entre julho de 2024 e novembro de 2025. O departamento emitiu seis notificações de melhoria para a empreiteira devido aos trabalhos no complexo e iniciou três processos judiciais, disse, sem fornecer mais detalhes.
Os bombeiros foram acionados para um dos blocos do Wang Fuk Court por volta das 15h (horário local). Em cinco minutos o fogo já havia tomado os andaimes, invadido o interior do prédio e se espalhado para outros blocos do complexo, segundo uma nota do corpo de bombeiros.
Em cerca de quatro horas, sete das oito torres de 32 andares estavam em chamas. A fumaça densa dificultou o acesso dos socorristas aos andares superiores. Pelo menos 4,6 mil moradores foram levados a abrigos.
Jiang, professor assistente no departamento de ambiente construído e engenharia energética da Politécnica, comparou o incêndio ao da Grenfell Tower, em Londres, em 2017, que deixou 72 mortos. Uma investigação posterior revelou falhas do governo britânico, da indústria da construção e de empresas envolvidas na instalação de revestimentos inflamáveis na fachada do prédio.
‘É um mecanismo de propagação do fogo muito similar: da fachada, o fogo entrou nos apartamentos’, disse.
O líder de Hong Kong, John Lee, afirmou que o governo irá revisar o uso de andaimes de bambu. Os Departamentos de Edificações e do Trabalho disseram separadamente que realizariam inspeções emergenciais em prédios em reforma para garantir que andaimes e telas atendam aos padrões de segurança contra incêndios.
A polícia também afirmou ter encontrado espuma no complexo que pode ter contribuído para a rápida propagação das chamas.
Espuma ‘queima rapidamente e produz fumaça espessa e tóxica’, disse Chau Sze Kit, presidente do Sindicato Geral dos Empregados da Indústria da Construção de Hong Kong.
O material pode ajudar a evitar danos por poeira e vidro às janelas durante obras, disse ele, mas questionou: ‘a equipe de gestão e os supervisores da obra consideraram esse risco?’
Chris Wong, que ainda esperava notícias da mãe de 72 anos, manifestou revolta pelo fato de as janelas de seu apartamento estarem bloqueadas com espuma.
‘O governo tem leis, mas essas leis são aplicadas quanto à qualidade dos materiais e à segurança? Tenho minhas dúvidas.’
A administração informou ao comitê de moradores que itens necessitando de reparo ou manutenção incluíam entradas de água de combate a incêndio, componentes de mangueiras como esguichos, alarmes, extintores, carretéis de mangueira e luminárias com baterias.
Em julho de 2025, o comitê também foi informado de que ‘algumas mangueiras dentro dos reservatórios de incêndio apresentavam sinais de desgaste e corrosão durante o trabalho de impermeabilização’. Participantes recomendaram substituí-las.
E em novembro de 2024, o comitê expressou preocupação de que o número de painéis solares nos telhados das torres ‘poderia violar regulamentos de segurança contra incêndio’ e sugeriu consultar o departamento de bombeiros.
O chefe de Segurança, Chris Tang, afirmou que os alarmes de incêndio do complexo não estavam funcionando corretamente, confirmando reclamações anteriores de moradores.
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